FAQ


1. Quais os problemas a que damos resposta?

Luís de M. Correia num artigo de opinião em 21/05/2008, no site www.educare.pt escreve: "a legislação não contempla a categoria das dificuldades de aprendizagem específicas (DAE) e, por conseguinte, os alunos que apresentam esta problemática são totalmente ignorados e, na maioria dos casos, entregues a um insucesso escolar total que leva a níveis assustadores de absentismo e de abandono escolar". Refere ainda que, os indivíduos com DAE possuem um quociente de inteligência na média ou acima dela e que as DAE dizem respeito a um conjunto de desordens [] que englobam várias problemáticas (ex.: dislexia, disgrafia, discálculia, dispraxia, dificuldades de aprendizagem não-verbais) das quais a mais prevalente é a dislexia, constituindo cerca de 80% do número total de alunos com DAE. E o autor continua: “o Ministério da Educação (ME) continua a não considerar os alunos com DAE (onde se inserem os alunos com dislexia) como receptores de serviços de educação especial, atirando-os para um estado límbico em que, na maioria dos casos, serão os próprios professores dos alunos e, porventura, alguns "professores de apoio", a tentar responder às necessidades destes alunos sem, no entanto, possuírem uma preparação adequada para o fazerem. Resultado: para além do aumento do insucesso escolar, assiste-se ao comprometimento do futuro dos alunos com DAE, começando no seu abandono escolar e acabando, tantas vezes, na toxicodependência e na delinquência. [] Às crianças com dislexia está-lhes a ser negada a oportunidade de terem sucesso".

O autor não refere aqueles pais que com muito sacrifício quer financeiro quer da sua organização familiar e/ou profissional se empenham na resolução do problema recorrendo a apoios externos à escola. Somos defensores de que deveria ser o Ministério da Educação a dar este tipo de respostas quer pela contratação de técnicos especializados (como nós temos) quer pelas parcerias com instituições como a nossa. Mas não é porque o ministério não o faz que vamos deixar de dar apoio aqueles que o procuram e podem, alguns com muito sacrifício (como já referimos) pagar.

Estudos americanos e ingleses estimam que existam cerca de 10% de crianças com DAE. Como exemplo vejamos: um agrupamento de escolas situado na área geográfica do CAPPA: tem no ano lectivo 2008/09 1200 alunos, terá que ter 120 alunos com DAE dos quais 80% serão disléxicos ou seja 96.

Quantos estão sinalizados? Se forem 20 já é óptimo. Quantos têm apoio? Se 10 tiverem é óptimo

Que tipo de apoio? Se 5 tiverem apoio especializado excelente. Como refere Luís de Miranda Correia no artigo de opinião que temos estado a citar “não haverá nenhuma classe regular que não possua pelo menos um ou dois alunos com DAE

O CAPPA tem, portanto, entre o seu público-alvo as crianças com DAE. Estamos preparados para fazer um diagnóstico específico neste domínio. Contamos com uma vasta equipa de psicólogos, terapêutas da fala, técnicos de psicomotricidade, educadores, professores (para já só do 1º ciclo mas estamos a desenvolver contactos para todos os níveis). Mas se for necessário uma psicoterapia também temos profissionais aptos para isso. Aliás, acreditamos que muitas crianças também necessitam deste apoio pela sua baixa auto-estima ou traços de hiperactividade e sobretudo para a aceitação de que é diferente (nem melhor nem pior) dos outros, que tem o direito a ser diferente, que tem que ser respeitada por isso. Para a exclusão de eventuais problemas orgânicos temos parcerias com fisiatras, neurologistas, otorrinolaringologistas, oftalmologistas, dentistas e podólogos. Outras parcerias poderão no futuro vir a ser estabelecidas. Estamos a trabalhar uma parceria com um especialista em imagem pessoal para trabalhar estas questões.

Relativamente ao mundo do trabalho o nosso publico-alvo são todos aqueles indivíduos que ficam frequentemente de baixa médica por problemas músculo-esqueléticos de causa desconhecida (estima-se que sejam 80% das baixas médicas) mas também o cansaço crónico, problemas de sono (de causa não obstrutiva ou outra) - ver sinais.


2. Qual a relação entre postura, aprendizagem e desempenho profissional?

Maria Antónia Gonçalves em 8/2/2008 no resumo da sua comunicação apresentada no Colóquio Internacional de Segurança e Higiene Ocupacionais escreve: “As escolas estão sujeitas a factores de risco tal como qualquer outro local de trabalho. (…) estas recebem alunos que, sendo muito jovens, desconhecem os possíveis perigos para a Segurança e Saúde que possam advir das condições físicas existente nas salas de aulas, tornando-se num grupo particularmente vulnerável. Assim sendo, caberá aos responsáveis por estas instituições a responsabilidade por zelar pela saúde e bem-estar das crianças, bem como pela promoção do bom desempenho no processo ensino – aprendizagem.

Este projecto visa caracterizar os principais aspectos ergonómicos existentes em salas de aula do 1º ciclo do ensino básico, com vista a definir os parâmetros de referência para a concepção de uma sala de aula para alunos deste grau de ensino”

A autora sem saber nada de posturologia e, muito menos do chamado “Modelo da Escola de Lisboa”, chegou à mesma conclusão dos factores de risco preconizados por este paradigma. Porém, ficou só pelo ambiente escolar – não contemplou as nossas casas, a nossa roupa, o nosso calçado (claro que tratando-se de uma investigação com vista à elaboração de uma tese de doutoramento faz todo o sentido que haja esta limitação). Mas do contacto pessoal que tivemos com a autora, como muitos de nós, refere-nos que nunca tinha pensado nos restantes factores. Portanto, o uso prolongado de mesas e cadeiras (em ambiente escolar ou doméstico), de calçado, de roupas e de colchões que provoquem más posturas implica que todos os nossos músculos (externos e internos) estejam em tensão.

Estas tensões provocam alterações nos captores (que tal como o nome indica captam as informações do nosso meio físico envolvente) que estão espalhados por todo o nosso corpo: músculos, pele, olhos, ouvido, boca e pés. Depois através das vias aferentes levam a informação ao cérebro. Este analisa a informação e toma uma decisão. As vias eferentes trazem a decisão do cérebro sendo os músculos responsáveis por executar essa decisão.

Estas alterações nos captores provocam uma disfunção proprioceptiva. Os sinais característicos desta disfunção podem agrupar-se em 3 grande grupos: cognitivos, musculares e vertiginosos/equilíbrio. Fazem parte de um quadro clínico designado por SDP (Síndrome de Deficiência Postural).

A propriocepção é a percepção do próprio corpo, isto é, da ligação entre as várias partes que o compõe e da sua relação com o seu ambiente envolvente. E o seu meio envolvente vai desde passar junto a uma cadeira, a andar a pé ou de bicicleta, a escovar os dentes, pegar numa esferográfica, a fazer um ditado ou a copiar uma conta do quadro ou de um livro. São apenas exemplos de pequenos gestos do nosso dia-a-dia (uns aprendidos outros genéticos) que fazemos sem pensar como fazemos. Isto é que é a propriocepção, ou mais correctamente, o sistema proprioceptivo porque quando há alteração num dos captores todos os outros vão ficar alterados.

Só através do sistema proprioceptivo se pode compreender como uma alteração num pé ou num dente pode ter implicações no sistema visual, no controle postural, na capacidade de atenção, na forma como lemos, … e vice-versa, isto é, como é que um problema num músculo do olho pode vir a causar uma dor no ombro ou no joelho (veja no nosso blog um pequeno exemplo das cadeias musculares).
Muitos estudos de ergonomia já demonstraram a importância das condições de trabalho (luz, ventilação, mobiliário, ...) no aumento da rentabilidade dos trabalhadores.

Relativamente à relação entre as condições físicas do local de trabalho e o desempenho profissional = menos baixas médicas = aumento de produtividade continua a não ser muito valorizado pelos empregadores esta relação.
Tirando os casos extremos é dificilmente entendível como é que a posição de um teclado, a estrutura de uma cadeira podem ter influência naquilo que lemos, no tempo que levamos a ler, nos erros que damos ou não a escrever ou a ler os conteúdos num ecrã de um pc, por exemplo.



3. Qual a relação entre oftalmologia e problemas de aprendizagem/produtividade?
 
Directamente com o problema nada.

É nos olhos, ou melhor no sistema visual que está mais uma das principais entradas proprioceptivas. Já há muito que se sabe haver um cruzamento a nível do tronco cerebral entre as vias visuais e as respostas motoras/posturais do nosso corpo, embora ainda não se conheça muito bem o seu funcionamento.

Um oftalmologista não formado em posturologia (e em Portugal só existe um) irá fazer, apenas, uma avaliação oftalmológica clássica. Aqui a diferença reside em que, este oftalmologista para além da avaliação clássica que qualquer um faz, também faz a avaliação postural dinâmica e prescreve os respectivos prismas posturais (se for caso disso)

Pode, portanto, acontecer não haver nenhum problema ao nível da refracção, mas mesmo assim a pessoa necessitar de usar lentes – estamos a falar de lentes prismáticas posturais. O objectivo destas lentes, como o seu nome indica, é apenas o de corrigir alterações posturais. E, já sabemos as consequências de uma má postura!!!


4. Qual a relação entre um dentista e problemas de aprendizagem/produtividade?

Directamente com o problema nada.

É na boca, ou melhor na articulação temporo-mandibular (ATM) que está mais uma das principais entradas proprioceptivas. Na filogénese, os antropólogos e os biólogos sempre souberam que, o maxilar inferior é de facto a nossa última vértebra. Só muito recentemente é que se fez a transposição deste conhecimento para as suas consequências, quando disfuncionais, no homem actual. Por isso uma má oclusão ou um dente cariado pode causar uma disfunção temporo-mandibular que irá interferir na postura. E, já sabemos as consequências cognitivas de uma má postura!!!

Este profissional irá fazer uma avaliação postural dinâmica e em função do tipo de alteração postural detectado fará o tratamento proprioceptivo especifico para cada caso em função do captor ou conjunto de captores que estão disfuncionais.

 

5. Qual a relação entre otorrinolaringologia e problemas de aprendizagem/produtividade?
 
Directamente com o problema nada.

É no ouvido, ou melhor no sistema vestibular, que se encontra mais uma entrada proprioceptiva. Quantas vezes não desconfiamos que os nossos filhos/alunos têm um problema de audição e depois de consultado este especialista e ter feito toda uma série de exames se verifica que afinal ele não tem nada. Ouve perfeitamente!!. Também sabemos que o equilíbrio é controlado pelo ouvido. Mas já reparou que talvez esta criança que “parece” ouvir mal também costuma queixar-se de dores de cabeça e cair com muita frequência.
Quantos adultos não existem com tonturas e/ou vertigens que depois de fazerem todo o protocolo médico para diagnosticar um síndrome vertiginoso lhes é dito: não tem nada, os exames não dão nada ... aguente-se, tome a medicação em s.o.s ...
Tudo isto pode estar relacionado com problemas posturais. E, já sabemos as consequências de uma má postura!!!



6. Qual a relação entre podologia e problemas de aprendizagem/produtividade?

Directamente com o problema nada.

É no pé (receptor plantar) que está mais uma das principais entradas proprioceptivas de toda a metade inferior do corpo. Mas como, em termos proprioceptivos, está área do nosso corpo não é independente da metade superior, implica que ela tem um papel significativo em toda a unidade funcional que é o corpo humano. Por isso um pé com problemas dá necessariamente uma disfunção proprioceptiva que irá interferir na postura. E, já sabemos as consequências de um má postura!!!

A dinâmica do contacto do pé com o solo é crucial. E, essencialmente o dedo grande do pé pelas informações importantes que fornece para assegurar a verticalidade no fim da passada.

7. Porque é que os problemas de sono e de respiração podem ter uma causa postural?

Porque devido às tensões musculares crónicas pode haver uma compressão das vias aéreas superiores que provocam uma diminuição do diâmetro destas vias impedindo uma eficaz passagem do ar. As causas para essas tensões musculares crónicas são multifactoriais.


8. Não serão um fisiatra ou um ortopedista os especialistas mais vocacionados para fazer a avaliação da postura?

A avaliação postural dinâmica pode ser feito por qualquer profissional da medicina.

Em Portugal o que se verifica é que não tem havido interesse em receber essa formação. Mas, um fisiatra ou um ortopedista nunca poderão prescrever lentes sejam para tratamento postural ou não, no caso de o paciente precisar

Na prescrição de palmilhas ou calçado específico poderiam fazê-lo mas, como já referimos, até agora não há nenhum médico destas duas áreas formados em posturologia segundo o modelo da “Escola de Lisboa” As palmilhas ou calçado que por vezes recomendam, tratam problemas mecânicos e não posturais.


9. Em que consiste o tratamento proprioceptivo?

O tratamento postural consiste em permitir que os captores proprioceptivos voltem a conseguir captar de uma forma funcional, isto é coerente entre si, toda a informação que têm que recolher do meio ambiente. Para isso é necessário “mexer” nas entradas proprioceptivas: pés, músculos, articulação temporomandibular, sistema vestibular e sistema visual.

Há, então várias formas de o fazer e dependerá de cada caso, mas o nível  é comum a todas as situações:



I. Intervenção proprioceptiva

Através de um técnica descoberta pela Drª Narcisa Pavan e até hoje só ela dispõe desse conhecimento.



II – Intervenção mecânica no sistema muscular
III – Intervenções não específicas da posturologia


 Compensação cognitiva

Terapia da fala

Reprogramação postural

Treinos da psicomotricidade

Psicoterapia

Imagem pessoal


Qualquer intervenção num destes sistemas implica mudanças no outro. Não é obrigatória uma intervenção em todos. Cada caso é um caso.


10. Toda a panóplia de exercícios pedagógicos, que têm sido apresentados em diversos livros ao longo das últimas décadas, deixam de fazer sentido?

De modo algum. Continuam válidos.

Não é o tratamento proprioceptivo que irá por uma criança a ler mas com os tratamentos complementares discriminados no ponto II irá permitir a recuperação mais rápida de eventuais problemas de aprendizagem. Se uma criança aos 8 anos ainda não lê ou dá erros sistematicamente não são estas ferramentas que lhe vão dar essas competências.

Elas apenas vão ser instrumentos facilitadores de toda a aprendizagem, isto é, vão fazer com que seja mais facilmente recuperada através dos exercícios de treino cognitivo tradicionalmente usados.
 

11. Se a criança estiver deprimida ou apresentar perturbações emocionais também recomendam algum apoio a este nível?

 A resposta é semelhante à da pergunta anterior.

Todos sabemos que as perturbações emocionais também provocam tensões musculares. E, não serão certamente estas ferramentas que irão alterar os estados emocionais disfuncionais. Sabemos, da nossa casuística, que serão instrumentos facilitadores, por exemplo, de melhoria da imagem corporal. Sabemos de quadros disfuncionais cuja causa assenta, como nos dizia uma criança “eu sabia que sabia mas não conseguia mostrar que sabia (…) só me apetecia bater em toda a gente por causa disso” Ou outra que nos dizia “Para quê estudar? Ninguém percebia que eu não os percebia de propósito nem por preguiça (…) só tinha vontade de chorar”

 
12. Qual a relação entre hiperactividade e SDP?

Em crianças que são designadas por aqueles que as rodeiam como irrequietas, com bichos-carpinteiros tem-se verificado, através do podoscópio, anomalias do pé. Frequentemente trata-se de um pé cavo, Parece que estas crianças, pelo “facto de terem um contacto plantar anormal” encontram-se quase permanentemente num equilíbrio dinâmico em vez de num equilíbrio estático. Mas também pode resultar da ocorrência da disfunção dos captores proprioceptivos.
 

13. É possível melhorar o desempenho profissional, logo aumentar a produtividade, através de do vosso tratamento postural?

Sim, é possível. É preciso termos presente que a posturologia vai intervir nos factores individuais, isto é, nos factores intrínsecos à própria pessoa que lhe provocam sofrimento logo baixa de produtividade. Mas, obviamente que se os factores externos continuarem a provocar más posturas, a intervenção exclusivamente na pessoa só resolverá parte do problema.

O objectivo da Ergonomia é o estudo do homem durante o trabalho (considerando-se por extensão as actividades domésticas, durante o lazer e os tempos livres) de modo a melhorar globalmente as condições em que decorre a sua vida. O seu objectivo será primordialmente utilizar as metodologias próprias desta ciência, com o objectivo de melhorar a adequação entre o Homem, a máquina e o ambiente físico de trabalho, considerando em primeiro lugar o Homem e depois o sistema produtivo tornando-o sempre que possível mais competitivo e funcional.

Deste modo procede-se à adequação do trabalho ao Homem e não do Homem ao trabalho.


O objectivo da Ergonomia é o estudo integrado de uma situação de trabalho, tendo como finalidade aumentar a eficiência, a segurança e a competitividade. O seu objectivo será por excelência, a aplicação dos princípios ergonómicos a fim de optimizar a compatibilidade entre o homem, a máquina e o ambiente físico de trabalho, através do equilíbrio entre as exigências das tarefas e das máquinas e as características anatómicas, fisiológicas, cognitivas e perceptivo-motoras assim como a capacidade de processamento da informação humana.

A posturologia vem dizer que falta intervir na componente individual. Se um indivíduo tem, por exemplo, uma alteração a nível da ATM, ou tem um Síndrome de Respirador Oral, não há adaptação da máquina ou do local de trabalho que lhe vá melhorar o seu rendimento profissional.

Em síntese, tem que existir uma plataforma onde as duas vertente do mesmo problema estejam interligadas.



Por favor, se continua com dúvidas ou se há questões das quais não nos lembramos, não hesite em contactar-nos.


NOTA
:
este site destina-se ao publico em geral pelo que, por opção não foi usada uma linguagem muito técnica;
             por essa mesma razão também algumas das explicações são muito simplistas, mas o nosso objectivo ao
             fazer estas faq foi exactamente chegar ao maior número possível de pessoas que não têm, nem têm que

                ter, formação específica nesta área.